terça-feira, 20 de setembro de 2011

Fechando a porta da imaginação.

_Você ainda vai precisar de mim!
Ela me disse antes de virar as costas e ir embora com aquele olhar penetrante que chega em sua alma mas que, somente eu mesma posso ver e sentir.
Foi quando eu estava com raiva de mim mesma, e dela. Por ter acabado de descobrir coisas que nem eu mesma imaginava e assim, ter deixado certas coisas chegarem a um certo ponto e estragado tudo.
Ela estava tentando domar conta de mim. Agiu por conta própria e quando eu fui perceber, estava fazendo escolhas incertas nos momentos errados. Ela sabia o que queria. Eu tinha medo. Ela não sentia culpa e achava que a sua escolha seria boa para mim também. Mas se enganou, e assistiu de longe eu desistir do seu plano individualista e voltar atrás feito uma criança chorona, desamparada, com medo de aceitar o que viria pela frente, com medo de se sentir sozinha e enfim, desistindo. Ali ela percebeu que eu não estava preparada para encarar tudo aquilo.
Aquela noite não foi a melhor de todas. Eu consegui magoar dois corações ao mesmo tempo ... Eu me senti horrível por dentro, só eu mesma pra conseguir essa proeza. Agora eu corria o risco de ficar sem ninguém, mas eu sabia o que tinha que fazer. 
Primeiro, tranquei qualquer porta do meu pensamento da onde ela poderia reaparecer e agir sozinha de novo. Mas percebi que ela estava muito tranquila e que não tinha intensão nenhuma de sair por aí e fazer tudo de novo ou até mesmo pior. Ela aceitou o fato de que, eu não precisaria dela para corrigir os erros. Ficou quietinha, sentada naquela cadeira de bar que fica no balcão, tomando o seu whiskey com duas pedras de gelo. A luz fraca da estante do bar só chegava até nela, o resto do quarto era escuro. O seu cabelo cumprido, ondulado e loiro, parecia castanho agora e a jaqueta de couro preta dela, a fazia parecer uma rockstar pensando na vida tomando mais um gole descente de sua bebida. E o som que tocava baixinho, vindo do fundo, parecia ser a introdução de "Wish You Were Here do Pink Floyd", aquela cena me fez sentir dentro de um filme. Fiquei a observando por um tempinho e ouvi direito que a música era mesmo a do Pink Floyd. Peguei na maçaneta da porta e comecei a fecha-la, bem devagar, foi quando ela olhou pra mim. Metade do seu rosto ficou no escuro, a outra metade que ficou na luz, eu pude ver um sorrizinho que começava a se formar daquela sua boca rosada e pequena. Nesse momento "David Gilmour" já estava cantando _ "Did They get you to trade. Your heroes for ghosts?" _ ( "Fizeram você trocar. Seus heróis por fantasmas?). E Ela sorrindo pra mim naquele exato momento. Ela é o meu fantasma, o fantasma mais bonito que eu já pude criar. Fechei a porta e tranquei. Me virei e me encostei na porta atrás de mim, a música ficou mais alta. Fechei os olhos e viajei naquela música. Como eu queria uma bebida nesse exato momento também, mas eu não podia. Escorreguei as costas na porta até me sentar no chão e esticar as pernas _ "How I wish, how I wish you were here. We're just two lost souls Swimming in a fish bowl, Year after Year ..." _ ( Como eu queria, como eu queria que você estivesse aqui. Somos apenas duas almas perdidas Nadando em um aquário, Ano após ano...). De repente o som ficou num eco e abri os olhos, eu já não estava mais naquele lugar. Estava no meu quarto e agora era a hora de agir por mim mesma na vida real. Ainda assim, eu pude ouvir a música terminando bem baixinho na minha cabeça _ "What have we found? The same old fears. Wish you were here ... Taram tam tam" _ ( O que encontramos? Os mesmos velhos medos. Queria que você estive aqui ... Taram tam tam).

(autora: Raquel Rodrigues)


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